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Qual o melhor caminho a seguir para tornar meu site realmente acessível?

Ilustração: uma pessoa cadeirante, uma sem deficiência e um cego em frente a uma encruzilhada.
0 Acessibilidade, Site Acessível, LBI - Lei Brasileira de Inclusão, Plataforma Web, WCAG, eMag, Diversidade & Inclusão, W3C, Desenho Universal

Uma das maiores barreiras que nos impede de alcançar uma web realmente acessível e inclusiva é a falta de conhecimento sobre o assunto. Apesar de não ser possível esgotar este tema em um único artigo, reunimos algumas pessoas com deficiência e especialistas para darem algumas dicas, depoimentos e informações que ajudem as pessoas e empresas a conhecerem um pouco sobre este universo e estarem mais capacitadas para fazerem escolhas e avaliarem a qualidade de acessibilidade das opções oferecidas no mercado e também de suas plataformas e comunicações digitais.

Em primeiro lugar, é importante saber que existe uma comunidade internacional engajada em estudar, pesquisar, conscientizar e criar boas práticas e normas que ajudam a tornar os sites, aplicativos e conteúdos digitais mais acessíveis a todas as pessoas, com igualdade de oportunidades, incluindo pessoas com deficiências diversas, como deficiências visuais, auditivas, físicas, intelectuais, psicossociais, surdocegueira e múltiplas (duas ou mais deficiências associadas).

Essa diversidade de deficiências e combinações entre elas cria uma complexidade tal que torna impossível a criação de uma solução única ou a automatização de processos capaz de tornar um produto digital acessível para qualquer pessoa e sem barreiras de acesso de forma simples e rápida.

Por isso, foram criadas as Diretrizes de Acessibilidade para Conteúdo Web (WCAG) do W3C que estão na versão 2.1 (recomendada) e são reconhecidas internacionalmente. Essas diretrizes são compostas por uma extensa documentação contendo várias recomendações, critérios de sucesso, técnicas e boas práticas para criação de páginas e conteúdo digital acessível e são um caminho seguro para garantir que seus canais de comunicação podem ser acessados pela maioria das pessoas. O conceito de desenho universal, inclusive, é a espinha dorsal da documentação WCAG. Pensar e agir sob a perspectiva do desenho universal é conceber páginas web que sejam acessadas e utilizadas com autonomia e segurança para o maior número possível de pessoas, independente de suas diversidades.

No Brasil, temos também o eMag, o modelo de acessibilidade do governo eletrônico que foi criado para facilitar o acesso para todas as pessoas às informações e serviços disponibilizados nos sítios e portais do governo, mas que pode ser aplicado a todo e qualquer site.

O ciclo de um projeto acessível

Em geral, deve-se avaliar uma sequência de coisas dentro de uma empresa ou organização que deseja ter um site ou plataforma digital acessível tais como os objetivos da empresa, a situação atual do ambiente digital, a capacitação da equipe envolvida no projeto, o apoio da gestão e diretoria, os recursos disponíveis para o projeto, as manifestações já recebidas de pessoas com deficiência sobre a usabilidade e acessibilidade do site, e assim por diante.

Todo projeto digital acessível tem um ciclo que deve ser respeitado. Esse ciclo permeia as etapas de:

  • sensibilização de toda a equipe envolvida no projeto,
  • escuta ativa das opiniões e impressões de pessoas com deficiência sobre o site atual,
  • contratação de fornecedores ou desenvolvimento do produto digital considerando-se os requisitos e boas práticas de acessibilidade reconhecidas,
  • testes e validações de acordo com as boas práticas e normas mencionadas incluindo testes feitos com pessoas com deficiência,
  • divulgação e declaração de acessibilidade ao público,
  • criação de um canal aberto de interação com o público usuário para feedbacks sobre acessibilidade,
  • posterior estratégia de manutenção para que os resultados conquistados não sejam perdidos com o decorrer do tempo.


Mitos e Verdades da Acessibilidade Digital

Infelizmente, existem muitos mitos e armadilhas com relação à acessibilidade digital, por isso é sempre bom avaliar as soluções oferecidas, pedir a ajuda de especialistas e validar com pessoas com deficiência. Tenha em mente que a garantia da acessibilidade está no planejamento, na escrita de um bom código, na criação de conteúdo de forma adequada e em testes e validações feitos de forma automática e manual, incluindo a participação de pessoas com deficiência.

Sabemos que a maior parte das barreiras de acessibilidade surge com códigos mal escritos e erros de marcação, onde a semântica de cada linguagem não é respeitada. O HTML, linguagem utilizada para criação de páginas web, é a principal delas, a qual possui uma biblioteca semântica que é interpretada não só pelos navegadores, mas também pelas tecnologias assistivas.

Por exemplo, quando criamos um botão de envio em um formulário e usamos qualquer elemento HTML que não seja o elemento de botão, mas atribuímos a ele este papel, um leitor de telas (software utilizado por uma pessoa cega para navegação) não irá reconhecer este elemento como botão e o usuário pode não conseguir finalizar seu cadastro ou sua compra.

Ilustração de dois botões. O primeiro com símbolo de erro e o segundo de correto.

 

          <div>Botão 1</div>       <button>Botão 2</button>

Muitas pessoas acreditam que ações simples como a instalação de um plugin ou o uso de uma tecnologia externa tornarão seus sites acessíveis, mas isso não é possível.

“Não existem filtros ou plugins ‘mágicos’ que tornam seu sítio totalmente acessível a qualquer pessoa ou a qualquer tipo de deficiência. Embora um plugin possa oferecer contraste, fazer serviço de um 'ledor automático', ou traduzir um texto para Libras, esses recursos devem ser avaliados com cautela, pois nenhum plugin tornará magicamente acessível, por exemplo, um processo de compra feito pela Web”

Cartilha Acessibilidade na Web
Fascículo V Mantendo o conteúdo acessível
W3C São Paulo


A acessibilidade digital tem aspectos que vão muito além do que oferecem estes plugins, como um bom contraste ou o aumento do tamanho de fonte. Esses recursos são sim importantes, mas muitas vezes os próprios plugins que prometem tornar uma página acessível podem prejudicá-los.

Por exemplo, um site mostra este menu:

Menu de navegação com fundo branco e texto cinza mostrando lupa de busca.

Quando o recurso de contraste é aplicado, ele passa a ser exibido da seguinte forma:

Menu de navegação com fundo preto e texto branco com lupa de busca em cinza escuro.


Perceba que o botão de busca praticamente desapareceu e uma pessoa com baixa visão que depende da busca para navegar, não irá encontrá-la.

Em outro exemplo, um produto é exibido em uma loja virtual:

Monitor em vitrine de produtos com texto descritivo.

Ao aplicar o recurso de espaçamento de linha em um plugin de acessibilidade, quanto mais espaço é aplicado, mais o texto se move até o texto desaparecer!

Monitor em vitrine de produtos com parte texto descritivo oculto na janela.


Em alguns casos, os problemas com o uso de plugins se tornam tão grandes que a versão escolhida pelo usuário fica praticamente impossível de ser utilizada. Você mesmo pode fazer testes para ter certeza se o plugin está ajudando ou prejudicando seu site.

Quando o código está bem escrito e de acordo com normas estabelecidas, é possível que os plugins funcionem corretamente, mas eles não farão milagres com seu código!

Ao perguntar para Anderson Dall Agnol, mestre em Informática na Educação e especialista em Comunicação e Marketing em Mídias Digitais, pessoa com deficiência visual (baixa visão) sobre sua experiência de usuário em sites que utilizam este tipo de plugin, ele nos conta:

"Eu não acredito em plugins que prometem tornar tudo acessível. Eles parecem receitas de emagrecimento rápido que não funcionam. Eu encontrei vários problemas na descrição de links, no uso dos cabeçalhos, que estavam incorretos, problemas de contraste também, problemas de navegação, principalmente quando o site é mais visual. Não consegui associar o plugin com um cuidado especial do site com a acessibilidade. Em alguns casos, nem consegui distinguir que existia um plugin de acessibilidade. Além disso, é muitas vezes difícil fazê-lo funcionar corretamente com a navegação por teclado".

Então, para saber se seu site está realmente acessível, você pode fazer testes como os que mencionamos se um plugin estiver sendo usado, mas também pode verificar seu site em validadores automáticos, para ter uma ideia dos erros que ele possui.

Validando seu site!

Existe o validador de código HTML oficial do W3C, que avalia se as páginas web possuem erros de linguagem de marcação. Se existirem erros, converse com seu time de desenvolvimento ou com seu fornecedor, pois seu site provavelmente possui barreiras de acessibilidade.

https://validator.w3.org

Além disso, você pode verificar se o site possui erros específicos de acessibilidade. Existem diversas ferramentas na internet para avaliar gratuitamente a qualidade de acessibilidade de páginas web. Seguem algumas dicas:

Validador de Acessibilidade de acordo com as Diretrizes de Acessibilidade para Conteúdo Web (WCAG)

Access Monitor

WAVE da Webaim

TAW

Avaliador e simulador de acessibilidade de sítios do Governo Federal de acordo com o eMag

https://asesweb.governoeletronico.gov.br/


Mas lembre-se de que estas ferramentas apenas apontam algumas das barreiras, porém nem todos os problemas ou correções podem ser automatizados porque dependem de intervenção manual. Por exemplo, a descrição de imagens de forma automatizada permanece vaga e inacessível a pessoas cegas, mas a descrição apropriada do conteúdo transmitido na imagem feita por pessoas de acordo com o contexto faz sentido ao usuário que compreende a informação.

O funcionamento correto de um formulário com campos devidamente rotulados, mensagens de erro compreensíveis e intuitivas e o correto posicionamento do foco do teclado de acordo com a ação do usuário se torna muito difícil de ser automatizado. Os exemplos são muitos.


Soluções que funcionam

Existem algumas soluções ou ferramentas que podem sim ajudar a reduzir algumas das barreiras para algumas situações específicas como um avatar de Libras ou a conversão automática de textos em áudio, porém elas resolvem uma pequena parte das barreiras para grupos específicos de pessoas e seu uso não significa que seu site pode ser acessado por todas as pessoas. De fato, soluções parciais não impedem o risco de punição da Lei Brasileira da Inclusão (LBI) que diz ser obrigatória a acessibilidade em sites com sede ou representação comercial no Brasil de acordo com diretrizes adotadas internacionalmente.

Na prática, adotar soluções parciais e rápidas diz muito sobre o posicionamento de uma empresa com relação ao tema da Diversidade e Inclusão e pode até mesmo distanciar o público de pessoas com deficiência.

Gabriel Aquino, pedagogo, consultor em acessibilidade web, pessoa com deficiência visual (cega) é dedicado à promoção da acessibilidade no âmbito educacional, cultural e digital. Ele nos contou um pouco sobre sua experiência:

“Estes dias eu estava navegando no site de uma empresa e eu vi que ele usava um plugin de acessibilidade. Eu comecei a usar e me senti feito de bobo navegando com o que eles colocaram lá como acessibilidade. Parece até que o site estava pior que o original. Era melhor sem o plugin. Sou totalmente contra esses plugins.”

Adotar a acessibilidade na cultura da empresa é um caminho a ser trilhado na vida da organização. É (e sempre será) um eterno caminhar já que as singularidades humanas são infinitas. Ao se criar um site acessível deve-se considerar a acessibilidade desde seu início porque adequar um site complexo e já pronto às normas pode ser um processo longo. Muitas vezes, são necessárias diferentes fases de diagnóstico e eliminação de barreiras, de forma transparente para os usuários.

Para Reinaldo Ferraz, especialista em acessibilidade digital, a preocupação com a acessibilidade no início do projeto pode facilitar a eliminação de barreiras de acesso. "Quando colocamos requisitos de acessibilidade desde as primeiras etapas de elaboração do projeto fica muito mais fácil e mais barato identificar e eliminar as barreiras de acesso. Colocar a acessibilidade na rotina de projetos digitais é uma ótima forma de contemplar a eliminação de barreiras desde a concepção do projeto."

Para Sidney Tobias de Souza, analista de sistemas da PRODAM (Empresa de Tecnologia da Informação e Comunicação do Município de São Paulo) e consultor de acessibilidade digital da SMPED (Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência), pessoa com deficiência visual (cega), a acessibilidade digital é algo que vem sendo debatido e desenvolvido desde o milênio passado. Com a evolução do tema, se tornou consenso que a criação de um site deve ser feita de acordo com os princípios do desenho universal, em especial o princípio que trata do uso igualitário que diz que os ambientes devem ser iguais para todos.

“Me causou estranheza quando recentemente algumas empresas passaram a oferecer o serviço de plugin para acessibilizar sites. Não testei todos que estão no mercado, mas aqueles que vi gerava uma página diferente da original.

Os plugins não descrevem imagens, por exemplo, o que os torna inviável num site de arte ou e-commerce.

Não! O milagre da acessibilização não existe. Sites realmente acessíveis são resultados do trabalho perito de desenvolvedores e testadores comprometidos em disponibilizar seus conteúdos para pessoas com todo tipo de habilidades e características, inclusive pessoas com deficiência”.


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